SENTADO À BEIRA-MAR
Um mestre que se senta para ensinar é uma cena não apenas corriqueira na escola da vida, mas profundamente significativa, quase poética. Mais ainda tendo Jesus por mestre. Mais ainda à beira de um grande lago, um quase mar. Mais ainda quando a cátedra que ocupa é um grande barco. Mais ainda quando é grande a multidão sedenta de suas palavras, seus ensinamentos. Isso tudo nos revela o evangelho que dá início às parábolas do Reino, segundo a narrativa do evangelista Mateus, aquele que deu grande destaque à pedagogia de Jesus através de pequenas histórias.
Por que ensinar com parábolas? Nos dias atuais há mais objetividade e menos contacto humano na arte de ensinar. Nem sequer aulas presenciais são exigidas dos nossos alunos. Quando muito, o mestre se senta diante de uma câmara, ampliando e diversificando as paredes de sua restrita sala de aulas. O quadro negro, o giz, o apagador? A palmatória? Os livros didáticos? A biblioteca, o laboratório? O recreio, a cantina? Ora, ora, essa escola caducou.
Mas na escola de Cristo o aprendizado é maior, livre de qualquer amarra funcional ou tecnológica. Fala-nos enigmaticamente, mas essa fala vai direto ao coração, penetra as mentes abertas pela disponibilidade do dom do entendimento, uma graça concedida àqueles que possuem abertura da alma para as revelações da Verdade. Por isso as parábolas. “Porque a vós é dado compreender os mistérios do reino dos céus, mas a eles não (Mt 13,11). Porque sua doutrina não se joga em terreno infértil, pedregoso, seco, indiferente ao potencial da semente de um novo tempo. Quantos estão dispostos a “ver e ouvir”, a contemplar e acolher com júbilo uma nova perspectiva de vida, de mudanças radicais na maneira de conduzir suas existências? Esse é o diferencial na escola do Mestre.
A figura contemplativa e serena que Mateus descreve possui o encantamento, o dom de cativar e questionar sem imposições autoritárias. Essa era a característica de Jesus, o Mestre dos mestres, aquele que atraia multidões. Sentar-se à beira do grande lago é muito mais que uma figura de retórica, pois o “mar da vida” continua imenso e imerso em seus mistérios, à espera de semeadores da Palavra, que desatam os nós na vida daqueles que não compreendem tudo isso. Por isso Jesus nos quer semeadores. Continuadores de seu ministério. Por isso a cátedra de Cristo contempla o grande lago como seu campo de atuação, seu terreno a ser cultivado conforme desejos de Jesus. O mestre que nos desafiou a continuar o seu ministério de amor, se desejamos ver a salvo o cenário caótico que hoje contemplamos à beira do mar da vida.
O mestre sentou-se por alguns instantes. Falou, denunciou. E depois desafiou. “Quem quiser me seguir, ser meu discípulo, faça o mesmo, tome sua cruz, aceite seus limites, encare os desafios, acredite em mim, e me siga! Esse é o grande desafio da Igreja que somos, da missão que agora é nossa. Vinde e vede!
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br