Recebo do meu amigo Fonseca um apelo, quase um grito, comum a todos que hoje se assustam com a devastadora ação de um vírus global, mortal: Socorro, Wagner! Escreva alguma esperança. E acrescenta: “Estamos nós, os vivos, sendo comidos por um vírus morto – o vírus não é vivo – hospeda-se numa célula viva para fazer o estrago. O capitalismo, de tão esperto, está sendo engolido dia a dia… na média móvel de mil por dia”. Pois bem, meu caro, meus caros, eis que a esperança parece sucumbir.

Ainda bem que ela será a última. Pois ao mesmo tempo em que leio este comentário, eis que encontro outro, bem mais promissor. Diz: “A esperança não pode ser presunçosa e descuidada… Por isso Jesus disse: ‘Vigiai e orai’ Mais do que nunca, precisamos dessas atitudes”. Quem diz isso em uma live está morto, sendo velado nesse instante. É D. Henrique Soares, bispo da Diocese de Palmares, PE, que acaba de ingressar nas estatísticas aterradoras de mais uma vítima da COVID 19. Apenas 57 anos, grandes projetos pastorais, enorme amor pelo povo, inusitada fé e amante da vida, bem como homem de clara visão e respeito pela morte.

Já no leito de sua agonia e prestes a ser entubado após doze dias de convivência com a doença do século, gravou um vídeo com a seguinte mensagem: “A carne está fraca, mas o espírito continua forte, estou nas mãos de Deus, sou Dele”. E acrescentou, com São João Paulo II, também em seu leito de dor e agonia: “Não tenham medo”.

Morreu neste 18 de julho do já fatídico 2020. Além de se despedir com verdadeiras palavras de esperança, D. Henrique sempre foi realista quando o tema era a realidade da morte. Dizemos sempre, em forma interrogativa, haver vida depois da morte. Mas poucos se preocupam em responder a uma questão inversa: Há morte depois da vida? Biologicamente, a realidade sempre nos aponta um caminho fatal, final. Mas, para aqueles que ultrapassam os limites da carne, encontram na fé e na esperança de algo mais, de um novo sentido existencialista, de uma imortalidade espiritual que amplia a grandiosidade e razão de nossas vidas, – para estes – a morte não existe.

Coincidentemente (se é que coincidências existem por acaso) eis o que nos disse D. Henrique em uma de suas últimas entrevistas, quando sequer cogitava a possibilidade de sua morte breve: “A vida é uma semente. A morte não é o fim, mas o desabrochar para a eternidade, um verdadeiro nascimento. Nascemos para dizer um sim a Deus, crescermos na Fé e no amor a Deus, para que um dia na morte possamos nos abrir para a vida que nunca se acabará”.

Então, desafio quem leu até aqui a responder a questão inicial: Há morte depois da vida? Melhor não pagar pra ver. Porque a vida é muito mais do que a realidade, essa que sucumbe tão facilmente diante de um insignificante vírus. Pior vírus é aquele que mata nossa esperança antes de compreendermos nossa própria imortalidade. Descanse em Paz, D. Henrique. Um dia estaremos juntos.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br