Catequese e comunicação: uma relação necessária para os dias atuais – Por F. Santos

 

Todos nós que cremos no Cristo e fazemos comunhão de fé como Igreja de irmãos a caminho do céu, contemplamos as palavras do Documento de Aparecida, número dezoito e fazemos dele um fiel ponto de partida para nossa reflexão sobre a missão evangelizadora nos dias atuais:

“Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher. Com os olhos iluminados pela luz de Jesus Cristo ressuscitado, podemos e queremos contemplar o mundo, a história, os nossos povos da América Latina e do Caribe, e cada um de seus habitantes.”

Tal missão evangelizadora, não segue mais padrões arcaicos de uma mera transmissão da fé, mais se volta para as primeiras palavras do parágrafo citado: “Conhecer a Jesus Cristo”. É ele o centro da missão da Igreja e é no encontro com ele que a fé de cada indivíduo, e, consequentemente, de toda comunidade se firma. Mas no contexto atual, podemos e devemos nos perguntar: Como “transmitir esses tesouros aos demais”, diante de um grande crescimento demográfico, diante do isolamento social provocado pelas novas mídias, diante do crescente distanciamento do contato interface entre as pessoas?

O Padre Tiago Alberione, fundador dos Padres e Irmãos Paulinos, dizia que se os meios de comunicação são usados para propagar o mal e o pecado, podem ainda mais ser usados para proclamar o Evangelho. Por isso, reafirmar a importância do uso dos meios de comunicação no processo evangelizador se torna indispensável e urgentemente necessário. Eles “constituem um areópago de importância crucial para os fins de enculturação da fé cristã”1.

Antes de mais nada, não se deve esquecer, que nós com nossas palavras e eficazmente com nossas atitudes somos o primeiro veículo para qualquer comunicação. Por isso, o catequista e todo fiel, deve falar e proclamar arquivo que vive, crê e busca, não correndo assim o risco de serem palavras lançadas ao vento e perda de tempo. Para comunicar exige-se também conhecer, por isso, todo bom comunicador é aquele que aposta na leitura, aprimoramento e investimento naquilo que visa comunicar.

Não se pode também querer transmitir uma fé etérea e distante das realidades existenciais que circundam a vida dos destinatários do processo evangelizador. A fé tem força maior quando é plena de humanização e consciência social. Pois não só toca no que concerne a aspectos teóricos como também a própria vida de cada filho ou filha de Deus que busca em sua fé respostas para seus problemas. “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração.”2

A partir daí, podemos fazer uso dos materiais audiovisuais, das produções musicais, cinematográficas e televisivas e da multiplicidade de sites religiosos. Nos confirma isso, o decreto pós-conciliar, Inter Mirifica, sobre os meios de comunicação, número 13: “Procurem, de comum acordo, todos os filhos da Igreja que os meios de comunicação social se utilizem, sem demora e com o máximo empenho nas mais variadas formas de apostolado, tal como o exigem as realidades e as circunstâncias do nosso tempo, adiantando-se assim às más iniciativas, especialmente naquelas regiões em que o progresso moral e religioso reclama uma maior atenção”.

Com os olhos voltados para o Primeiro Catequista, Jesus Cristo Divino Mestre, rogamos o auxílio de sua catequista Maria Santíssima, para sermos fiéis e perseverantes no processo evangelizador, não medindo esforços para fazer chegar o Evangelho da vida, onde a injustiça, o desespero e as trevas da maldade ainda imperam e como São Paulo afirmarmos: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho” ( Cf. 1Cor 9,16).

 

1   CNBB, A comunicação na vida e missão da Igreja no Brasil: estudos da CNBB 101, nº 48. Paulus, 2011

2 Gaudium et spes, disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vaii_const_19651207_gaudium-et-spes_po, acesso em 15 de fevereiro de 2020.