ABRIR E FECHAR, LIGAR E DESLIGAR

A primeira leitura e o evangelho desta liturgia nos falam de dois vocacionados que recebem missões de grande responsabilidade. Eliacim receberá as chaves da casa de Davi; Pedro recebe do Cristo as chaves do reino dos céus. Quanta confiança Deus deposita nesses homens e em todos aqueles por Ele chamados! De fato, o chamado de Deus não é totalmente compreensível a nós. Um Deus, que se basta a si mesmo, prefere, em seus desígnios insondáveis, contar com cada um de nós.

A vocação de Pedro surge a partir de sua confissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Por essa abertura ao mistério de Deus, que se revela em Cristo, o pescador se torna um alicerce firme para que o Senhor edifique sua Igreja. A simbologia das chaves está atrelada à questão central do perdão. Ligar e desligar tem o sentido de assumir a missão de Jesus com total disposição, sempre colocando em primeiro lugar a misericórdia divina, que salva e redime o ser humano inteiro.

O fato de receber as chaves não significa que Pedro passa a ser dono do Reino dos Céus. Ele tem consciência de que é chamado a ser guardião e pastor que a todos conduz à salvação. Sua missão consiste em vigiar para que mais e mais pessoas estejam ligadas ao amor de Deus, que salva e dá vida nova.

VOCAÇÃO NASCE E SE CULTIVA NO AMOR

O atual momento histórico levanta questões sérias para a vivência comprometida da fé. A pergunta de Jesus ressoa em nosso coração e nos impele a responder: E vós, quem dizeis que eu sou? A resposta que damos manifesta o quanto de fato assumimos a pessoa de Jesus em nossas comunidades, em nossas famílias e, antes de tudo, em nosso próprio coração. Comprometer-se com Cristo é tomar a sério seu evangelho. É sentir a interpelação que brota de suas palavras hoje, quando, mais do que nunca, se percebe uma desorientação sobre o sentido mais profundo da vida, não obstante a pluralidade das religiões.

Com essa pergunta provocadora, o Senhor nos envolve em seu amor e nos convida a aprofundar-nos na fé. É no amor que ele nos chama, é no amor que também somos chamados a cultivar no coração das pessoas esse chamado vocacional. As chaves que abrem o Reino do Céu podem hoje ser traduzidas como caridade, compreensão, fraternidade, ardor missionário e coragem profética. Sim, porque sem a coragem profética não seremos capazes de enfrentar as questões cruciais de nosso tempo, sobretudo aquelas que fecham as vias da promoção da vida, por desligarem as pessoas do amor a Deus e ao próximo. Que nosso sim ao chamado de Deus e a certeza da fé de que Ele é o Filho de Deus, o Redentor do mundo, ajudem-nos a viver profeticamente nossa fé.

Fonte: Portal Kairós